sábado, 26 de julho de 2014

Do exercício subversivo de brincar


http://outraspalavras.net/destaques/do-exercicio-subversivo-de-brincar/

"A proposta também escora-se nos adultos. Deve-se – por necessidade – resgatar a criança dentro de cada adulto. Não é uma tarefa simples, como procurar numa caixa velha uma ferramenta perdida, pois, na maior parte das vezes, nem percebemos o quanto no tornamos sérios demais e ocupados demais para brincar não somente com os outros, mas com nós mesmos. Concluímos, ainda, nos anais da vã filosofia sobre “maturidade adulta”, que seriedade é sinônimo de competência e que brincadeira é sinônimo de imperfeição. A primeira é profissional e eficaz, enquanto a segunda é imprudente e desnecessária. Porém, não se trata de regressar ao estado infantil, de deixar que subam passivamente os vapores das saudades, mas de recompor o lugar e o momento dessas condutas perdidas."
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"Para recuperar o lúdico na vida cotidiana é preciso lutar contra um processo histórico específico que trocou a brincadeira artesanal, autêntica, pelos shoppings centers e consumos de eletrônicos. É preciso também de ideias, critérios e perguntas radicalmente diferentes do que os slogans da sociedade moderna invoca o tempo todo. A começar, por exemplo, pela redução drástica do tempo de trabalho obrigatório e a mudança da própria noção de trabalho. Trocando em miúdos, não poderá haver completo desenvolvimento individual do “tempo livre” enquanto o trabalhador permanecer alienado e mutilado no trabalho. Sair em defesa da “tarja branca”, portanto, é também atacar de frente os imperativos da “tarja preta”. E o documentário apenas flerta com esse exercício. No entanto, é indiscutível sua resistência, em muitas falas e imagens, na ligação com a cultura popular, até porque as tônicas dos discursos no filme não são homogêneas."

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